... Homing, a journey of a thoushand miles begin with a single step ...

" I SAW AN ANGEL IN THE MARBLE AND CARVED UNTIL I SET HIM FREE. "

Michelangelo Buonarroti ( 1475 - 1564 )



Sunday, August 9, 2009

Casa Madre Maria Clara



São 4 horas da tarde quando sou recebida por uma voz dócil e serena, ao mesmo tempo que em antecipação feliz anuncia: " As visitas já chegaram!!! "


Ansiosas, entramos: Casa Madre Maria Clara.



No seio do bairro do Chamanculo, situada na Missão de São José de Lhanguene, encontramos um lar, um espírito de família e não meramente um orfanato.

São 78 meninas que fazem parte desta grande e unida família; de idades compreendidas entre os 3 e 21 anos. Cada uma traz em si uma crónica para contar, sendo que ali estão por variadas e maioritariamente desgostosas razões.

Vítimas de maus-tratos, órfãs de Sida, desabrigo e abandono, fome, miséria... situações que palavras apenas são incapazes de descrever e nos' , tão pouco compreender.

" A Margarida chegou com apenas 3 meses. Foi abandonada no meio de um funeral. " – Contava a mesma voz que nos tinha recebido.


" A polícia trouxe-a cá depois de frustrados esforços para localizar a família” – relata-nos a irmã com um triste sorriso na face – “ É o caso de muitas outras crianças que aqui estão. "

Margarida, hoje com três anos, e’ a flor mais nova desta casa e faz a sua presença sentir-se pelo carinho que transmite ao beijar-nos e acompanhar-nos,
de mãos dadas as nossas, pela casa que ela tem tanto orgulho em mostrar.




Este lar esta’ sob o delicado cuidado da Congregação das Irmãs Franciscanas
da Imaculada Conceição, a quem
as meninas carinhosamente
chamam mãe e em retorno recebem muito mais do que amparo e compreensão.

Recebem amor desmedido e integral.

As actividades diárias praticadas pelas crianças incluem corte e costura, culinária, horticultura e pecuária de onde advêm parte dos seus próprios suplementos alimentares. A educação passa por uma dedicada orientação espiritual e formação escolar primário/secundário e, posteriormente o ensino técnico e universitário.

Ao falarmos das necessidades que estas crianças têm, as mais básicas e imediatas definem-se em alimentação e vestuário bem como material escolar. A assistência psicológica, manutenção do espaço habitacional, desenvolvimento de actividades desportivas e culturais, ensino de línguas e artes puderão também ser adicionadas a esta lista pois são de momento inexistentes ou escassas.

Por outro lado, e’ igualmente bem-vindo a apadrinhamento individual de uma menina pelo apoio a educação, ajuda do desenvolvimento afectivo, troca de correspondência que certamente fortalecera o carinho já proporcionado nesta casa.

São 5.20 da tarde, em dez minutos iniciara a missa tão esperada por todos. As meninas correm para se arranjar pois entrarão em breve na presença daquele que fortifica os seus espíritos pelo amor e aceitação incondicional, Deus.

Despedimo-nos com um sorriso nostálgico mas ao mesmo tempo esperançoso.

E’ uma mistura de emoções, quando presencia-se a vontade de viver e ser para além daquilo que a vida dispôs-se a ceder.

Custa-nos sair, voltar para o nosso “ quase perfeito “ mundo em que temos tudo, mas afinal somos muito menos do que poderíamos ter sido.

Entre abraços prometemos voltar. Prometemos continuar e, de algum modo ajudar.

Prometemos voltar ...

2 comments:

  1. Olá Lenna

    Emocionei-me tanto ao ler o relato deste teu pedacinho de vida...cercou-me um misto de ternura e de incompreensão pelo sofrimento que o ser humano pode ser sujeito e logo as crianças, que são os seres mais frágeis e mais puros ...deviam ser os mais acarinhados e não os mais sofridos.
    Emocionei-me ao sentir o carinho com que estas crianças foram acolhidas e emocionei-me as perceber que esse pouco que recebem lhes enche o coração e lhes faz suportar o que ainda lhes falta...
    Às vezes sinto vergonha por chorar quando me sinto ferida ou revoltada com um obstáculo que a vida me coloca à frente quando percebo que existem obstáculos bem maiores que têm que ser ultrapassados por outros...
    Talvez por isso uma das minhas maiores riquezas é quando sinto que consigo serenar a dor ou a dúvida de alguém ...fazer sorrir é o maior presente que alguém pode ter quando sente que está a perder o seu sorriso.
    Espero que consigam voltar e que este carinho que transportam e doam aos que sofrem seja uma fonte inesgotável...parabéns pela alma que aqui senti.


    beijinhos*

    Daniela Pereira

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  2. Daniela,

    Munto obrigada por esta nota!!!

    Ao "serenar" a a dor dos outros, acarinhamos também a nossa ... este é um dos maiores presentes que podemos dar e em retorno receber.

    Muitas vezes não entendemos a razão de ser das coisas mas, eu sei e acredito: cada batalha que a vida nos apresenta, tem um propósito a servir.

    Qual?! Cabe a nós no fim escolher, escrever e outra vez recomeçar.

    Beijinhos e ( pipocas para ti também )!!!

    Lenna*

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